O opressor que também é oprimido: estressores psicossociais e o seu efeito preditor na satisfação no trabalho do agente responsável pela custódia do preso em Minas Gerais
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Resumo
No Brasil e no mundo, o estresse no trabalho tem sido identificado como um dos principais problemas de saúde no contexto laboral, refletindo no sujeito, na organização e no próprio governo. Além disso, reconhece-se que existem profissões que demonstram maior incidência de sua manifestação, como o indivíduo responsável pela custódia dos presos. Estudos internacionais mostraram que a profissão de agente penitenciário está entre as profissões mais estressantes do mundo e, apesar da escassez de estudos nacionais sobre o assunto, essa realidade certamente está presente em nosso país. Especificamente no Brasil, o aumento da população carcerária observado nas últimas décadas, bem como a reiteração de notícias relacionadas à violência, motins e degradação humana nas prisões, indica a necessidade de olhar para o contexto de trabalho desses profissionais, uma vez que os resultados organizacionais também estão ligados à condição de saúde de seus trabalhadores. Além disso, a satisfação no trabalho apresenta-se como um importante elemento contribuinte para desvelar essa realidade, pois a satisfação no trabalho já foi diretamente associada à saúde do trabalhador e ao desempenho organizacional, além de estar inversamente associada ao estresse. Assim, o principal objetivo deste trabalho foi identificar as fontes psicossociais estressoras percebidas pelos responsáveis pela custódia dos presos e seu efeito preditivo na satisfação no trabalho desses sujeitos. A pesquisa é de natureza quantitativa-descritiva e, para esse fim, foram aplicadas duas escalas, já testadas em estudos que sustentam a validade dos construtos, contendo respostas no formato Likert, que se relacionam a sete estressores e cinco dimensões de satisfação no trabalho. Também foi aplicado um questionário sociodemográfico desenvolvido nesta pesquisa. A amostra foi composta por 206 indivíduos que trabalhavam no sistema penitenciário de Minas Gerais e divididos em dois grandes grupos: os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP), vinculados ao sistema comum ou tradicional (composto por penitenciárias, presídios, entre outros), e os Inspetores de segurança (IS) vinculados à metodologia da Associação de Proteção e Assistência a Condenados (APAC). A divisão dos participantes em grupos também proporcionou uma comparação entre esses dois modelos penitenciários. Após análise dos resultados, verificou-se que existe uma percepção de estressores pelos participantes, e é certo que essa percepção foi demonstrada com maior intensidade entre os ASP. Além disso, escolaridade, salário, tempo de trabalho no sistema prisional, número de presos em custódia e número de servidores foram elementos sociodemográficos que também apresentaram correlação positiva com a percepção dos estressores. Verificou-se também a existência de uma correlação negativa entre vários estressores e a satisfação no trabalho desses sujeitos, sendo certo que a regressão hierárquica identificou que todas as dimensões da satisfação no trabalho sofrem variações explicadas pelos estressores, e a intensidade dessa variação depende tanto do ambiente de trabalho em que esse sujeito está imerso, bem como os estressores percebidos por ele. Considerações, limites e contribuições da pesquisa são apresentados em cada um dos dois artigos que compõem este trabalho.